Rotação de Culturas
A monocultura ou mesmo o
sistema contínuo de sucessão do tipo trigo-soja ou milho safrinha-soja, tende a
provocar a degradação física, química e biológica do solo e a queda da
produtividade das culturas. Também proporciona condições mais favoráveis para o
desenvolvimento de doenças, pragas e plantas daninhas. Nas regiões dos Cerrados
predomina a monocultura de soja entre as culturas anuais. Há a necessidade de
introduzir, no sistema agrícola, outras espécies, de preferência gramíneas,
como milho, pastagem e outras.
A rotação de culturas
consiste em alternar, anualmente, espécies vegetais, numa mesma área agrícola.
As espécies escolhidas devem ter, ao mesmo tempo, propósitos comercial e de
recuperação do solo.
As vantagens da rotação
de culturas são inúmeras. Além de proporcionar a produção diversificada de
alimentos e outros produtos agrícolas, se adotada e conduzida de modo adequado
e por um período suficientemente longo, essa prática melhora as características
físicas, químicas e biológicas do solo; auxilia no controle de plantas
daninhas, doenças e pragas; repõe matéria orgânica e protege o solo da ação dos
agentes climáticos e ajuda a viabilização do Sistema de Semeadura Direta e dos
seus efeitos benéficos sobre a produção agropecuária e sobre o ambiente como um
todo.
Para a obtenção de máxima
eficiência, na melhoria da capacidade produtiva do solo, o planejamento da
rotação de culturas deve considerar, preferencialmente, plantas comerciais e,
sempre que possível, associar espécies que produzam grandes quantidades de
biomassa e de rápido desenvolvimento, cultivadas isoladamente ou em consórcio
com culturas comerciais.
Nesse planejamento, é
necessário considerar que não basta apenas estabelecer e conduzir a melhor
seqüência de culturas, dispondo-as nas diferentes glebas da propriedade. É
necessário que o agricultor utilize todas as demais tecnologias à sua
disposição, entre as quais destacam-se: técnicas específicas para controle de
erosão; calagem, adubação; qualidade e tratamento de sementes, época e densidade
de semeadura, cultivares adaptadas, controle de plantas daninhas, pragas e
doenças.
2.1. Seleção de espécies
para compor esquemas de rotação
Um esquema de rotação
deve ter flexibilidade, de modo a atender as particularidades regionais e as
perspectivas de comercialização dos produtos.
O uso da rotação de
culturas conduz à diversificação das atividades na propriedade, possibilitando
estabelecer esquemas que envolvam apenas culturas anuais, tais como: soja,
milho, arroz, sorgo, algodão, feijão e girassol, ou de culturas anuais e
pastagem. Em ambos os casos, o planejamento da propriedade a médio e longo
prazos faz-se necessário para que a implementação seja exeqüível e
economicamente viável.
As espécies vegetais
envolvidas na rotação de cultura, devem ser consideradas do ponto de vista de
sua exploração comercial ou destinadas somente à cobertura do solo e adubação
verde.
A escolha da cobertura
vegetal do solo deve, sempre que possível, ser feita no sentido de obter grande
quantidade de biomassa. Plantas forrageiras, gramíneas e leguminosas, anuais ou
semiperenes são apropriadas para essa finalidade. Além disso, deve se dar
preferência a plantas fixadoras de nitrogênio, com sistema radicular profundo e
abundante, para promover a reciclagem de nutrientes.
A seleção de espécies
deve basear-se na diversidade botânica. Plantas com diferentes sistemas
radiculares, hábitos de crescimento e exigências nutricionais podem ter efeito
na interrupção dos ciclos de pragas e doenças, na redução de custos e no
aumento do rendimento da cultura principal (soja). As principais opções são
milho, sorgo, milheto (principal espécie cultivada em sucessão: safrinha) e, em
menor escala, o girassol.
Para a recuperação de
solos degradados, indicam-se espécies que produzam grande quantidade de massa
verde e tenham abundante sistema radicular. Para isso, lançar mão de
consorciação de culturas comerciais e leguminosas, como por exemplo,
milho-guandu, ou de mistura de culturas para cobertura do solo, como por
exemplo, braquiária + milheto, e seqüências de culturas de grande potencial
para produção de biomassa. Para estabelecer o consórcio milho-guandu, semear
milho precoce em setembro-outubro e, cerca de 30 dias após a emergência do
milho, semear o guandu nas entrelinhas do milho.
Em áreas onde ocorre o
cancro da haste da soja, o guandu e o tremoço não devem ser cultivados,
antecedendo a soja. O guandu, apesar de não mostrar sintomas da doença durante
o estádio vegetativo, reproduz o patógeno nos restos de cultivo. Desse modo,
após o consórcio milho-guandu, usar uma cultivar de soja resistente ao cancro
da haste. O tremoço é altamente suscetível ao cancro da haste.
Em áreas infestadas com
nematóides de galhas da soja, não devem ser usados tremoço e lab lab, por serem
hospedeiros e fonte de inóculo desse patógeno.
2.2. Planejamento da
propriedade
A rotação de culturas
envolve o cultivo de diferentes espécies numa mesma safra e, portanto, aumenta
o número e a complexidade tarefas na propriedade. Exige o planejamento do uso
do solo segundo princípios básicos, onde deve ser considerada a aptidão
agrícola de cada gleba.
A área destinada à
implantação dos sistemas de rotação deve ser dividida em tantas glebas, ou
piquetes, quantos forem os anos de rotação. Após essa definição, estabelecer o
processo de implantação sucessivamente, ano após ano, nos diferentes talhões,
previamente, determinados. A execução do planejamento deve ser gradativa para
não causar transtornos organizacionais ou econômicos ao produtor, devendo ser
iniciada em uma parte da propriedade e ir anexando novas glebas até que toda a
área esteja incluída no esquema de rotação.
2.3. Sugestão de um
esquema de rotação de culturas
Com base em observações
locais no sul do Maranhão e de acordo com as possibilidades dos cultivos das
culturas componentes dos sistemas de rotação, sugere-se, ainda que
preliminarmente, um esquema de rotação a ser conduzido ao longo de um ciclo de
oito anos. Em cada talhão cultiva-se a soja por dois anos
contínuos, seguido por dois anos do cultivo de outras culturas (milho, arroz,
algodão e sorgo). Eventualmente, pode-se ter três anos com soja, no máximo.
Maior número de anos implicará em problemas mais sérios com pragas e doenças.
As proporções de
culturas, dentro da rotação, poderão ser alteradas em função das necessidades.
Fonte: EMBRAPA